Na noite de uma quinta-feira turbulenta para o futebol brasileiro, o nome de Ednaldo Rodrigues estampou as manchetes após seu afastamento da presidência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). A decisão veio do desembargador Gabriel de Oliveira Zéfero, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, e desencadeou uma nova onda de incertezas e disputas nos bastidores da entidade.

Mas afinal, o que motivou esse afastamento? Quais as implicações políticas e jurídicas? E quem está no comando da CBF neste momento? Neste artigo, destrinchamos todos os detalhes dessa polêmica que pode mudar os rumos do futebol brasileiro.

Como começou a crise: o acordo judicial e a assinatura questionável

Tudo começou com um acordo homologado no Supremo Tribunal Federal (STF) em janeiro de 2024, que garantiu a permanência de Ednaldo Rodrigues na presidência da CBF, mesmo diante de questionamentos sobre a validade de sua eleição em 2022. Esse acordo envolvia vices da entidade, a Federação Mineira de Futebol e o Coronel Nunes, ex-presidente da CBF.

Contudo, investigações recentes apontaram que o Coronel Nunes, que sofre de um tumor cerebral e encontra-se em tratamento, não teria capacidade cognitiva para assinar qualquer documento no momento do acordo. Pior: há suspeitas de que sua assinatura possa ter sido falsificada, o que lança dúvidas sobre a validade de todo o processo.

Decisão do TJ-RJ e afastamento imediato

Diante dessas evidências e da ausência do Coronel Nunes em depoimentos solicitados pelo tribunal, o desembargador Gabriel de Oliveira Zéfero decidiu afastar Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF. A decisão atendeu a um pedido feito por Fernando Sarney, um dos vices da entidade, que agora assume como interventor da CBF até março de 2025, com a missão de convocar novas eleições em até 30 dias.

A reação de Ednaldo Rodrigues e o apelo ao STF

Como era de se esperar, o corpo jurídico de Ednaldo Rodrigues se movimentou rapidamente. Já foi encaminhado ao STF um pedido para que o ministro Gilmar Mendes suspenda a decisão do TJ-RJ, devolvendo Ednaldo ao cargo de presidente da CBF.

Vale lembrar que, no final de 2023, Gilmar Mendes já havia concedido uma liminar favorável a Ednaldo Rodrigues, argumentando que sua saída, naquele momento, impediria o Brasil de enviar uma seleção ao torneio pré-olímpico masculino. Essa decisão, tomada de forma monocrática, garantiu a permanência de Ednaldo por mais de um ano à frente da entidade.

Gilmar Mendes pressionado: liminar ou plenário?

O ponto-chave agora é entender qual será a postura de Gilmar Mendes diante da nova crise. Fontes ligadas ao ambiente político da CBF acreditam que o ministro pode optar por não se envolver novamente diretamente e deixar que o caso siga pelo Plenário do STF, onde os 11 ministros decidiriam em conjunto.

Por que essa possível mudança de postura?

Segundo interlocutores, a imagem de Gilmar Mendes foi desgastada após a repercussão da reportagem da revista Piauí, assinada por Allan de Abreu. O texto denunciava gastos pessoais de dirigentes sendo pagos com dinheiro da CBF e mencionava o vínculo entre o filho do ministro e a CBF Academy, hoje gerida pelo Instituto IDP, que pertence ao filho de Gilmar Mendes. Esse entrelaçamento expôs o ministro e gerou críticas públicas, o que pode pesar em sua nova decisão.

A mudança no estatuto e o jogo político de Ednaldo Rodrigues

Durante o seu mandato, Ednaldo Rodrigues trabalhou ativamente para fortalecer sua posição política dentro da CBF. Uma de suas principais ações foi a mudança no estatuto da entidade, permitindo duas reeleições consecutivas — algo inédito até então.

Essa alteração foi aprovada por 27 votos a 0, e semanas antes da crise estourar, Ednaldo foi reeleito com todos os 60 votos do Colégio Eleitoral da CBF. Ainda assim, esse poderio político não impediu que ele fosse afastado judicialmente, demonstrando que o jogo na entidade vai muito além das urnas internas.

Fernando Sarney assume como interventor e convoca novas eleições

Com Ednaldo afastado, Fernando Sarney assume a presidência da CBF como interventor até março de 2025, e deverá convocar novas eleições em até 30 dias, conforme decisão do Tribunal de Justiça.

Qualquer candidato poderá disputar a presidência, desde que atenda aos critérios estabelecidos, como ter o apoio de ao menos quatro federações estaduais e quatro clubes das Séries A ou B, que precisam assinar a chapa de candidatura.

Quais os próximos passos?

O cenário ainda é incerto. Há três possibilidades:

  1. Gilmar Mendes concede nova liminar e recoloca Ednaldo Rodrigues na presidência da CBF.
  2. O STF decide em plenário, com os 11 ministros votando sobre a legalidade da permanência de Ednaldo.
  3. O caso segue apenas pelo TJ-RJ, sem interferência do STF, validando a decisão de afastamento.

É importante observar que o próprio Gilmar Mendes foi quem remeteu o caso de volta ao TJ-RJ, ao invés de arquivá-lo no STF. Esse gesto indica que o ministro pode preferir se distanciar da questão e permitir que o Judiciário fluminense conclua o processo.

A crise escancara os bastidores da CBF

O afastamento de Ednaldo Rodrigues revela muito mais do que um simples embate jurídico. Ele expõe os interesses políticos, conflitos de poder e possíveis irregularidades que ainda cercam a gestão da CBF, mesmo após anos de escândalos envolvendo antigos presidentes como Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero.

Mesmo após o escândalo do FIFAgate, que abalou profundamente a credibilidade da CBF no cenário internacional, as disputas internas continuam a se sobrepor aos interesses do futebol nacional.

Conclusão: o futuro do futebol brasileiro está em jogo

O afastamento de Ednaldo Rodrigues da CBF não é um capítulo isolado. Ele é apenas mais um episódio de uma longa história de instabilidade política e judicial na entidade que comanda o futebol mais vitorioso do planeta.

Nos próximos dias, será crucial acompanhar os desdobramentos no STF, as movimentações de Gilmar Mendes, e a organização das novas eleições. Mais do que uma disputa de cargos, o que está em jogo é a credibilidade do futebol brasileiro e a governança de uma das entidades mais poderosas do esporte mundial.