A contratação de Memphis Depay pelo Corinthians se tornou um dos episódios mais comentados e inusitados do futebol brasileiro nos últimos anos. O relato surpreendente, feito por Thiago Maranhão, ex-apresentador do SporTV e atual superintendente de comunicação do clube paulista, revelou uma sequência improvável de decisões que culminaram na chegada do craque holandês ao futebol nacional. Nesta matéria, desvendamos todos os detalhes dessa negociação que misturou emoção, improviso e estratégia.

O Início de Tudo: O Desespero Após Mais uma Derrota

O contexto da contratação de Memphis Depay foi marcado por um cenário de tensão e crise esportiva. O Corinthians enfrentava uma sequência negativa, agravada após uma derrota dolorosa contra o Fortaleza, fora de casa. Apesar do bom desempenho em campo, o time sucumbiu nos minutos finais, acumulando mais um revés e ampliando o temor de uma possível queda para a segunda divisão.

Presentes no estádio estavam as principais figuras do departamento de futebol: o presidente Augusto Melo, Vinícius Casconi (então secretário geral), Pedro Silveira (diretor financeiro à época) e Fabinho Soldado, executivo de futebol. O ambiente era de inquietação e a pergunta que pairava entre eles era inevitável: “O que vamos fazer agora? O time não vence e a zona de rebaixamento se aproxima”.

A Ideia Inusitada: Procurar um Craque na Internet

Em um movimento digno de roteiros cinematográficos, surgiu a proposta mais inusitada: buscar um nome de peso internacional, que pudesse mudar o rumo do clube. Segundo o relato de Thiago Maranhão, a frase que ecoou entre os dirigentes foi: “Não vamos pensar em dinheiro, vamos pensar em quem traríamos se pudéssemos”.

Naquele momento, ainda no estádio e sob forte pressão emocional, os dirigentes pegaram seus celulares e começaram a procurar por jogadores livres no mercado. O site Transfermarkt, referência em informações sobre transferências, se tornou a ferramenta decisiva. Foi lá que encontraram o nome de Memphis Depay, disponível e com potencial para ser a grande estrela do time.

Sem hesitar, localizaram o contato do empresário do jogador, mesmo sabendo que, naquele momento, eram cerca de seis da manhã na Alemanha.

O Primeiro Contato: A Surpresa da Resposta Rápida

Mesmo diante do horário improvável, os dirigentes enviaram um e-mail para o agente de Depay, apresentando-se e manifestando o interesse em contratá-lo. Para surpresa de todos, a resposta veio rapidamente: “É para valer?”.

O Corinthians confirmou a intenção e, para reforçar a seriedade da proposta, enviou uma foto da comitiva de dirigentes que estava presente no estádio. Logo em seguida, os representantes do clube se colocaram à disposição para uma videoconferência via FaceTime.

A negociação precisava ser célere. A janela de transferências estava prestes a fechar, e o Corinthians precisava concretizar a contratação o mais rápido possível.

Negociação Rápida e Efetiva: O Craque Holandês no Brasil

O empresário de Memphis Depay demonstrou profissionalismo e receptividade desde o primeiro contato. Conforme relatado por Thiago Maranhão, o Corinthians conseguiu resolver todas as pendências contratuais em tempo recorde.

Assim, o impensável aconteceu: Memphis Depay, um dos jogadores mais renomados do futebol europeu, com passagens por Manchester United, Lyon e Barcelona, aceitou jogar no Brasil. O relato de Maranhão, que destacou com orgulho “eu estava lá”, deu ainda mais credibilidade e autenticidade ao episódio.

A Contratação Mais Cara do Futebol Brasileiro (Antes de Neymar)

A chegada de Depay foi comemorada como uma das maiores contratações da história do futebol brasileiro. O atacante holandês tornou-se, naquele momento, o jogador mais bem pago do país, com um salário astronômico, ultrapassado posteriormente apenas pela contratação de Neymar para atuar no futebol nacional.

O que mais chamou a atenção de jornalistas e torcedores foi a forma improvisada com que tudo aconteceu. O jornalista Mauro Cezar Pereira resumiu bem: “A parte que eu mais gosto é: ‘não vamos pensar em dinheiro’. Essa é a melhor parte!”.

Improviso ou Falta de Planejamento? A Polêmica Decisão

O episódio gerou inúmeros debates no cenário esportivo sobre a gestão no futebol brasileiro. A decisão de contratar um jogador de renome internacional, sem uma análise criteriosa sobre sua condição física ou desempenho recente, escancarou uma realidade preocupante: a ausência de planejamento estratégico.

Como ressaltou um dos comentaristas, “eles não pesquisaram, não avaliaram o momento do jogador, foi tudo de improviso”. Fica evidente que a decisão foi tomada mais pela urgência em evitar o rebaixamento do que por uma visão de longo prazo.

O Padrão da Improvisação no Futebol Nacional

O caso de Memphis Depay não é isolado. O jornalista que relatou os bastidores lembrou de episódios similares envolvendo outros clubes brasileiros. Durante uma transmissão esportiva, discutiu-se o salário de Didier Drogba nos Estados Unidos e, rapidamente, surgiu a ideia de que o Corinthians poderia tentar sua contratação. De fato, o clube buscou o jogador, mas o negócio não avançou.

Casos semelhantes aconteceram com o São Paulo, que chegou a cogitar a contratação de Samuel Eto’o, e com o Palmeiras, que especulou a vinda de outros grandes nomes. Esses episódios reforçam a cultura de decisões impulsivas, baseadas muitas vezes na emoção e não em uma estratégia estruturada.

Quando o Improviso Dá Certo: O Caso Abel Ferreira

Apesar das críticas ao improviso, há casos em que essas decisões acabam sendo acertadas. Um exemplo clássico foi a contratação do técnico Abel Ferreira pelo Palmeiras, que chegou sob desconfiança e acabou conduzindo o clube a títulos expressivos.

Assim, a chegada de Depay ao Corinthians é mais um capítulo dessa tradição: uma mistura de ousadia, desespero e, por vezes, sorte.

A Exposição de um Processo Constrangedor

Thiago Maranhão reconheceu que o episódio expôs uma faceta constrangedora do clube: a falta de critérios técnicos e estratégicos na tomada de decisões cruciais. “Isso mostra que o Corinthians nem pesquisou para contratar o Depay”, comentou um dos analistas.

Em mercados futebolísticos mais organizados, tal prática seria considerada impensável. A ausência de uma análise profunda e de processos estruturados coloca em xeque a seriedade e a sustentabilidade dessas decisões.

Crise Política no Corinthians: O Elemento Adicional

A negociação envolvendo Depay aconteceu em meio a uma grave crise política no Corinthians. Recentemente, o segundo vice-presidente do clube concedeu uma entrevista polêmica, sugerindo que o presidente Augusto Melo corre risco de queda, com a situação se deteriorando a cada dia.

Além disso, surgiram denúncias relacionadas à patrocinadora do clube, levantando suspeitas sobre a origem dos recursos utilizados na contratação de Depay e em outras operações. O clima nos bastidores é de instabilidade e incerteza, com dirigentes ironizando até mesmo a possibilidade de que Augusto Melo não tenha a passagem de volta garantida após a próxima viagem com a delegação.

Outro Caso Polêmico: A Rescisão de Wendel com o Botafogo

Enquanto o futebol brasileiro ainda assimilava a chegada de Memphis Depay, outro episódio ganhou as manchetes: a rescisão de contrato do volante Wendel com o Botafogo. A decisão foi atribuída a questões geopolíticas, já que os proprietários do Zenit, clube ao qual Wendel pertencia, foram incluídos em listas de sanções internacionais.

Como o Botafogo é controlado por John Textor, cidadão norte-americano, as transações se tornaram legalmente inviáveis. Entretanto, o próprio Wendel afirmou ter sido pego de surpresa, já que preparava sua mudança para o Rio de Janeiro, acreditando que a negociação estava concluída.

Reflexões Finais: O Profissionalismo Ainda é a Exceção

Os episódios envolvendo Memphis Depay e Wendel escancaram uma realidade que ainda marca o futebol brasileiro: decisões impulsivas, falta de planejamento e forte influência de fatores externos, como crises políticas e sanções internacionais.

O caso do Corinthians é um exemplo emblemático de como paixão, medo e improvisação podem determinar os rumos de uma instituição centenária, muitas vezes em detrimento de práticas mais profissionais e estruturadas.

Enquanto isso, o torcedor brasileiro segue acompanhando, entre perplexo e fascinado, os bastidores de um futebol em que, frequentemente, o improvável se transforma em realidade.