Nos bastidores do futebol brasileiro, o clima é de tensão, articulação e uma boa dose de insatisfação. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) se prepara para uma nova eleição, marcada para o próximo domingo, e apesar de haver um candidato único – Samir Chaud, o caminho até sua provável posse está longe de ser tranquilo. Os clubes, divididos, publicaram uma carta com oito exigências e debatem entre o protesto ou a aproximação estratégica com a nova gestão.

Neste artigo, vamos entender o contexto completo dessa eleição, os sentimentos dos clubes, as principais demandas apresentadas e o que está em jogo para o futuro do futebol brasileiro.

O Clima nos Clubes: Frustração e Sentimento de Exclusão

Com as movimentações aceleradas para a eleição do novo presidente da CBF, muitos clubes sentiram que foram deixados de lado no processo. Não houve um espaço claro para o diálogo amplo, e a decisão de apoiar Samir Chaud parece ter sido tomada de forma atropelada. A maioria dos clubes, embora nem todos, demonstra um certo ressentimento por não ter participado ativamente da construção da candidatura.

Essa sensação de exclusão provocou reações. Um dos exemplos foi a carta conjunta divulgada por clubes da Liga Forte União, com apoio de membros da Libra, cobrando mudanças no modelo de governança da entidade. Curiosamente, até clubes que apoiaram o próprio Samir assinaram o documento, como o Volta Redonda. Já outros, como Palmeiras e Remo, optaram por não endossar a carta.

Eleição Marcada, Mas o Clima Ainda É de Incerteza

A eleição está marcada para domingo, às 10h30, na sede da CBF, e contará com a participação das 27 federações estaduais, além dos 20 clubes da Série A e 20 da Série B. Samir Chaud é candidato único e, salvo alguma reviravolta, deve ser eleito. No entanto, isso não significa que será uma vitória tranquila.

Alguns clubes discutem realizar votos brancos ou nulos como forma de protesto, buscando sinalizar sua insatisfação com a forma como o processo eleitoral foi conduzido. A ideia é evitar uma unanimidade que, na prática, legitimaria integralmente a nova gestão da CBF.

Outros, porém, preferem uma abordagem mais pragmática: aproximar-se da nova gestão e apresentar demandas concretas. Afinal, mesmo diante da insatisfação, existe a compreensão de que é necessário dialogar para conseguir avanços reais.

A Reunião de Sábado: O Esquenta para a Votação

Antes da votação oficial, a CBF agendou para o sábado anterior uma Assembleia Geral com as federações, com foco em discutir questões estatutárias. Os clubes, nesse caso, não participam, já que não se trata de uma assembleia eleitoral. O objetivo declarado é reforçar a autogestão e modernizar a estrutura administrativa da entidade, algo que soa bem no papel, mas que será observado com desconfiança pelos clubes.

As Oito Exigências dos Clubes à Nova CBF

Os clubes, por meio da carta divulgada, apresentaram oito pontos centrais que consideram essenciais para uma reformulação real da CBF. São eles:

1. Alteração do Processo Eleitoral

O peso dos votos é desproporcional: clubes da Série A valem 2 votos, da Série B valem 1 voto, e federações valem 3 votos. Na prática, mesmo que todos os clubes votem juntos, as federações ainda têm maioria. Os clubes exigem uma revisão desse modelo.

2. Participação Obrigatória dos Clubes em Todas as Assembleias

Hoje, os clubes ficam de fora de diversas decisões. A exigência é clara: querem estar presentes em todas as assembleias gerais, inclusive as que tratam de assuntos administrativos e estatutários.

3. Compromisso com a Criação da Liga

Os clubes querem autonomia para organizar o Campeonato Brasileiro por meio de uma liga independente, algo que o próprio Samir Chaud já sinalizou positivamente.

4. Reconhecimento da Propriedade Comercial das Séries A e B

Atualmente, há uma disputa em torno de quem detém os direitos comerciais dos campeonatos. Os clubes defendem que as propriedades comerciais pertencem exclusivamente a eles, e não à CBF.

5. Alteração nas Regras de Governança

Eles propõem que a Comissão Nacional de Clubes tenha poderes executivos, o que significa mais voz ativa na tomada de decisões estratégicas da entidade.

6. Profissionalização da Arbitragem

A arbitragem no Brasil ainda é marcada por polêmicas e falta de transparência. Os clubes pedem critérios claros, formação contínua e independência para os árbitros.

7. Discussão do Calendário

O calendário do futebol brasileiro é um problema crônico. Os clubes exigem diálogo e planejamento para evitar sobrecarga e prejuízos técnicos e financeiros.

8. Criação de Regras de Fairplay Financeiro

Assim como na Europa, os clubes querem a implementação de regras de fairplay financeiro, promovendo equilíbrio e transparência na gestão dos recursos.

Quem é Samir Chaud, o Candidato Único?

Apesar de ser o único candidato, Samir não chega ao cargo isento de polêmicas. Já houve questionamentos sobre sua atuação como gestor hospitalar, e até um caso curioso envolvendo a análise errada de uma fratura em um motociclista.

Esses episódios levantam dúvidas quanto à solidez de sua imagem. Ainda assim, nos bastidores da CBF, ele conta com amplo apoio político, o que torna sua eleição praticamente certa – a menos que surja algum escândalo de última hora.

CBF em Transformação: Promessa ou Ilusão?

A crise que culminou com a saída de Ednaldo Rodrigues, que desistiu oficialmente de tentar voltar ao cargo, abriu espaço para um novo ciclo. Mas os clubes, atentos, sabem que não basta mudar nomes. É necessário mudar práticas.

A mobilização por reformas no modelo eleitoral, maior participação nas decisões e autonomia para organizar o campeonato brasileiro mostra que os clubes não estão mais dispostos a serem apenas coadjuvantes.

A eleição do próximo domingo é apenas o início de uma nova fase — que pode representar o fortalecimento dos clubes ou, mais uma vez, a repetição de uma estrutura centralizada e opaca.

Conclusão: Um Momento Decisivo para o Futebol Brasileiro

A eleição da nova presidência da CBF pode até parecer um ritual previsível, mas está longe de ser irrelevante. A insatisfação dos clubes, materializada em exigências claras, é um sinal de que algo precisa mudar. A luta por representatividade, transparência e modernização está em curso, e os próximos dias serão fundamentais para definir os rumos dessa transformação.

O futebol brasileiro vive um momento decisivo. Cabe aos clubes manterem-se firmes em suas demandas, à CBF demonstrar abertura ao diálogo, e a todos os envolvidos reconhecerem que, sem mudança estrutural, o esporte mais amado do país seguirá refém dos mesmos velhos problemas.

Perguntas Frequentes (FAQ)

Quando será a eleição da CBF?

A eleição está marcada para o domingo, às 10h30 da manhã, na sede da CBF.

Quem pode votar na eleição?

As 27 federações estaduais, os 20 clubes da Série A e os 20 clubes da Série B têm direito a voto.

Samir Chaud será eleito?

Ele é o único candidato, então, salvo uma grande reviravolta, será eleito e tomará posse na segunda-feira seguinte.

O que os clubes estão exigindo?

Os clubes apresentaram uma carta com 8 exigências, incluindo reforma no peso dos votos, participação em assembleias e reconhecimento da liga.

Quais clubes não assinaram a carta?

Entre os clubes que não assinaram a carta, estão o Palmeiras e o Remo.

A CBF vai atender às exigências dos clubes?

Ainda não há garantias. A expectativa é que a nova gestão abra espaço para diálogo, mas os clubes seguirão pressionando por mudanças concretas.

Fique ligado, porque o futebol brasileiro pode estar prestes a viver um de seus momentos mais importantes fora das quatro linhas.