A recente declaração de Felipe Luiz, ex-jogador e atual treinador do Flamengo, reacendeu um debate recorrente no futebol brasileiro: o impacto do calendário nacional sobre o desempenho físico dos jogadores. Para Felipe, o elenco rubro-negro está “sem perna”, e, se o calendário permanecer assim, “os melhores sempre ficarão fora”. Entretanto, essa justificativa não convenceu a todos. Para analistas como Mauro Cezar Pereira, o argumento não se sustenta, especialmente quando ainda estamos em maio, longe do ápice da temporada.

Neste artigo, destrinchamos os pontos centrais dessa discussão: o planejamento do elenco, as lesões recorrentes e as recentes movimentações do clube no mercado de transferências.

A Crítica à Justificativa de Felipe Luiz

A fala de Felipe Luiz sobre o suposto “desgaste físico” do Flamengo provocou reações imediatas. Mauro Cezar Pereira foi direto: essa é uma desculpa recorrente, semelhante às utilizadas por Tite em outros tempos para justificar desempenhos abaixo do esperado.

Segundo Mauro, é cedo demais na temporada — que se estende até dezembro — para colocar o cansaço físico como vilão. O jornalista argumenta que o problema não é o calendário, mas sim o planejamento e a gestão do elenco, que resultaram em um grupo vulnerável diante de desfalques.

Lesões e Desfalques no Flamengo

Apesar das críticas, é inegável que o Flamengo enfrenta atualmente uma série de lesões importantes, principalmente no setor de meio-campo, o que comprometeu o rendimento da equipe.

Na partida mais recente, Felipe Luiz precisou lidar com um cenário crítico:

  • De La Cruz: lesionado.
  • Pulgar: também fora por lesão.
  • Arrascaeta: sem condições de jogo.
  • Gerson: suspenso.
  • Alan: lesionado.
  • Plata: titular do ataque, ausente.

Diante desse quadro, restou a Felipe recorrer a Éverton Araújo, da base, como a única opção disponível no meio-campo. Em situações emergenciais, até o lateral Varela e o zagueiro Léo Ortiz foram improvisados na função. Um retrato claro do estado de improviso que domina o setor.

O Impacto da Gestão Anterior e o Histórico de Lesões

Outro elemento que permeia o debate é a formação do atual elenco. A gestão que hoje comanda o clube não foi responsável pelas principais contratações recentes. Assim, tanto os méritos quanto os erros na montagem do grupo são atribuídos à administração anterior.

Vale destacar que, entre os contratados, apenas De La Cruz possuía um histórico de lesões mais conhecido. Mesmo assim, sua chegada foi amplamente bem-recebida pela imprensa esportiva. Outros, como Alan, chegaram ao clube já lesionados, mas na época não houve uma preocupação generalizada sobre esse fator.

É importante lembrar que o Flamengo, historicamente, já apostou em jogadores lesionados que acabaram dando certo, como Paulo César Carpegiani e Cláudio Adão nos anos 1970.

A Atuação Discreta de José Boto no Mercado

O novo responsável pelo departamento de futebol do Flamengo, José Boto, ainda não teve a oportunidade de imprimir sua marca nas contratações. Isso porque a diretoria decidiu, no início do ano, frear os investimentos, priorizando a aquisição do terreno para o futuro estádio do clube.

Até agora, a única contratação foi a do jovem Juninho, por cerca de 5 milhões de euros — um valor modesto diante dos padrões rubro-negros. A avaliação sobre o jogador ainda está em aberto. Embora tenha recebido críticas e enfrentado desconfiança, alguns defendem que é cedo para descartá-lo.

A Reformulação do Elenco: Busca por Novos Perfis

Com os olhos voltados para o futuro, o Flamengo planeja uma reformulação estratégica no perfil de seus jogadores. A ideia é apostar em atletas:

  • Jovens.
  • Com maior resistência física.
  • Menor histórico de lesões.
  • Versatilidade tática, especialmente no setor ofensivo.

O objetivo é reduzir a dependência de atletas mais experientes, que, apesar do talento, têm sofrido com limitações físicas e dificuldades para manter uma regularidade ao longo da temporada.

Entre os nomes especulados, a prioridade são jogadores rápidos, fortes fisicamente e capazes de atuar tanto pelos lados como por dentro, oferecendo alternativas para o ataque.

Comparativo com Outros Clubes: O Exemplo do Palmeiras

Outro aspecto importante da discussão é o impacto das competições continentais na gestão física dos elencos. O exemplo do Palmeiras é ilustrativo.

  • Palmeiras: já classificado na Libertadores, venceu tranquilamente o Bolívar na quinta-feira, e pôde poupar jogadores para o confronto do fim de semana contra o Red Bull Bragantino.
  • Botafogo: enfrentou uma partida dramática contra o Estudiantes, pela Sul-Americana, para evitar a eliminação — uma situação que exigiu esforço máximo.
  • Flamengo: após tropeços recentes, precisou jogar com intensidade contra o Central Córdoba, também na quinta-feira, e acabou comprometendo o desempenho no clássico do fim de semana.

Ou seja, o desgaste físico não é resultado exclusivo do calendário brasileiro, mas também das decisões estratégicas tomadas ao longo das competições. Os clubes que conseguiram administrar melhor suas campanhas puderam descansar e rotacionar, enquanto outros chegaram ao limite físico.

Desgaste Físico ou Má Gestão?

O grande dilema, portanto, é: o problema do Flamengo é físico ou estratégico?

Para Mauro Cezar, a resposta é clara: trata-se de uma falha no planejamento. A diretoria não reforçou o elenco no momento certo, expôs a equipe à vulnerabilidade diante de desfalques, e agora precisa recorrer a soluções emergenciais.

Além disso, há um problema crônico na comunicação entre diretoria, imprensa e torcida. Muitas vezes, informações de bastidores são reproduzidas como análises técnicas, gerando confusão e dificultando uma leitura precisa da situação.

O Que Esperar do Flamengo?

Com a reformulação prometida, resta saber se o Flamengo conseguirá de fato encontrar atletas que combinem:

  • Talento técnico.
  • Resistência física.
  • Bom histórico médico.

Esse é o perfil desejado por todos os grandes clubes, mas nem sempre disponível a preços acessíveis.

A expectativa é que José Boto tenha, a partir da próxima janela de transferências, a chance de construir um elenco com a sua assinatura. O desafio será equilibrar a necessidade de resultados imediatos com uma reconstrução estrutural que permita ao clube se manter competitivo a médio e longo prazo.