A temporada de 2024 do futebol brasileiro não foi marcada apenas por gols e títulos, mas também por um rombo bilionário nas finanças dos clubes da Série A. Um levantamento feito por especialistas revelou um déficit total de R$ 1,128 bilhão entre os principais clubes do país. O dado alarmante escancara a fragilidade da gestão financeira no futebol nacional, mesmo em tempos de receitas crescentes.

Neste artigo, vamos mergulhar nos detalhes dos balanços financeiros, entender quais clubes afundaram no vermelho, quem conseguiu algum fôlego no azul e quais são os principais motivos para esse cenário caótico que, infelizmente, não é novidade.

Um Déficit Que Faz Chorar

Segundo o jornalista Rodrigo Matos, ao somar os resultados financeiros dos clubes da Série A em 2024, o cenário é de 13 clubes no vermelho, apenas 5 no azul e 2 que sequer apresentaram seus balanços — mesmo em 2025. O número assustador do prejuízo geral é de R$ 1,128 bilhão.

Os que Lucraram

Poucos clubes escaparam da tempestade financeira. Os superávits registrados foram:

  • Palmeiras: R$ 198 milhões
  • Grêmio: R$ 43 milhões
  • Juventude: R$ 34 milhões
  • Red Bull Bragantino: R$ 31 milhões
  • Fluminense: R$ 8 milhões

Porém, mesmo entre esses poucos positivos, há ressalvas. O superávit do Grêmio, por exemplo, se deve a uma manobra contábil envolvendo a Arena — um valor que não entrou de fato no caixa. Se considerarmos apenas a operação direta do clube, o Grêmio também teria fechado no vermelho, com um déficit aproximado de R$ 40 milhões.

Ou seja, na prática, apenas quatro clubes realmente tiveram uma performance financeira positiva.

Os Maiores Prejuízos: Um Mergulho no Vermelho

Imagem meramente ilustrativa

A lista de clubes com déficits milionários é extensa e preocupante. Veja os principais:

  • Atlético Mineiro: R$ 299 milhões
  • São Paulo: R$ 287 milhões
  • Bahia: R$ 181 milhões
  • Corinthians: R$ 181 milhões
  • Cruzeiro: R$ 112 milhões
  • Santos: R$ 105 milhões
  • Vasco: R$ 92 milhões
  • Fortaleza: R$ 80 milhões
  • Vitória: R$ 41 milhões
  • Internacional: R$ 34 milhões
  • Sport Recife: R$ 16 milhões
  • Ceará: R$ 5 milhões

A situação do Atlético-MG e do São Paulo é especialmente crítica, com quase R$ 600 milhões somados de déficit entre os dois. E mesmo clubes com tradição de boa gestão, como o Bahia, sofrem prejuízos expressivos. No caso do Bahia, porém, há um fator que ameniza: ele faz parte do Grupo City, que cobre os buracos orçamentários.

O Caso Flamengo: Quase no Equilíbrio

Dentre os que ficaram no vermelho, o Flamengo teve um resultado praticamente neutro: R$ 700 mil de déficit. Mesmo assim, o clube havia conseguido equilibrar os gastos no início do ano, o que mostra algum controle financeiro. Apesar disso, chama atenção o fato de um clube com grande potencial de arrecadação também não ter conseguido fechar no azul.

Por Que os Clubes Estão Afundando?

Segundo Rodrigo Matos, o buraco financeiro não surpreende quem acompanha os bastidores. Embora os clubes tenham aumentado a receita, as despesas cresceram ainda mais rápido. Em vez de usar a "sobra" para reduzir dívidas, muitos aumentaram seus passivos.

O futebol brasileiro vive um ambiente inflacionado, com salários altos, contratações caras e uma dependência cada vez maior da venda de jogadores.

Além disso, houve uma mudança contábil em 2024: os investimentos nas categorias de base, que antes eram registrados como ativos intangíveis, passaram a ser contabilizados como gastos. Essa alteração impacta diretamente os balanços, já que esses investimentos agora pesam no cálculo do déficit.

A Ilusão das Vendas de Jogadores

O maior superávit do ano, o do Palmeiras, veio principalmente da venda de atletas, como Endrick, Estêvão e Victor Reis. Isso levanta um ponto crucial: a dependência de receitas não recorrentes.

Receitas recorrentes são aquelas que se mantêm estáveis ao longo do tempo — bilheteria, patrocínio, direitos de TV — enquanto a venda de jogadores é volátil e imprevisível. Quando um clube depende exclusivamente dessas transações para fechar o ano no azul, ele se coloca em uma posição de risco.

SAFs e a Falta de Transparência

Dois clubes não apresentaram seus balanços: Botafogo e Mirassol. O caso do Botafogo, que virou SAF (Sociedade Anônima do Futebol), é ainda mais emblemático. A legislação brasileira exige que os clubes publiquem suas demonstrações financeiras até o fim de abril, sob pena de sanções. O Botafogo ignorou o prazo, levantando suspeitas e críticas sobre a falta de transparência mesmo em um modelo que deveria trazer mais profissionalismo.

Comparações Internacionais

A lógica de clubes no vermelho não é exclusiva do Brasil. Em ligas como a espanhola, casos como os de Valencia, Betis e Sevilla já passaram por crises semelhantes. Porém, em nenhuma delas os prejuízos atingem o mesmo patamar proporcional dos brasileiros. E lá há mecanismos mais rígidos de controle financeiro, como o fair play financeiro da La Liga.

No Brasil, a ausência de regulação efetiva e a cultura do "gasto imediato" criam um cenário em que os dirigentes seguem gastando como se não houvesse amanhã.

O Futebol Como Indústria: Hora de Mudar a Mentalidade

Uma das críticas mais contundentes feitas no programa foi a mentalidade dos dirigentes, muitos ainda presos a práticas amadoras. O futebol moderno é uma indústria bilionária que exige gestão profissional e planejamento a longo prazo. Mesmo com as SAFs, a mudança de mentalidade não está sendo suficiente.

Clubes precisam de estratégias para gerar receitas recorrentes, manter as contas equilibradas e investir de forma responsável — especialmente nas categorias de base, que são a maior fonte de ativos do futebol nacional.

Conclusão: O Futuro Exige Responsabilidade

O déficit bilionário da Série A em 2024 é um alerta vermelho. O futebol brasileiro precisa urgentemente rever suas práticas financeiras. Aumentar receitas sem controlar despesas é uma fórmula garantida para o desastre. SAFs, mudanças contábeis e vendas de jogadores não resolvem problemas estruturais.

É hora de os clubes tratarem suas finanças com a seriedade que o torcedor exige e que o futebol moderno demanda. Caso contrário, o espetáculo dentro de campo ficará cada vez mais refém do caos fora dele.

FAQ: Entenda Mais Sobre a Crise Financeira da Série A

1. Por que os clubes da Série A estão no vermelho mesmo com aumento de receita?
Porque as despesas cresceram mais rápido que as receitas, muitas vezes sem controle ou planejamento. O aumento da folha salarial, contratações e gastos operacionais contribuíram para o déficit.

2. O que é receita recorrente e por que ela é importante?
Receita recorrente é aquela que se repete anualmente, como bilheteria, patrocínio e direitos de TV. Ela dá estabilidade financeira ao clube, diferente da receita de venda de jogadores, que é esporádica e imprevisível.

3. A SAF resolve todos os problemas financeiros dos clubes?
Não. A SAF é um modelo de gestão empresarial, mas não garante equilíbrio financeiro. Sem transparência, profissionalismo e responsabilidade, até uma SAF pode operar no vermelho.

4. Por que a mudança contábil impactou os balanços?
Porque o investimento na base, antes considerado ativo intangível, passou a ser contabilizado como despesa. Isso inflou os déficits, embora reflita melhor a realidade dos gastos.

5. O que pode ser feito para melhorar a saúde financeira dos clubes?
Adotar planejamento estratégico, gerar receitas recorrentes, controlar gastos, valorizar a base e atuar com transparência e responsabilidade são passos essenciais para virar o jogo fora das quatro linhas.