Em pleno ano de 1966, às vésperas da tão aguardada Copa do Mundo na Inglaterra, o universo do futebol foi abalado por um acontecimento que parecia saído de um roteiro de cinema: o roubo da Taça Jules Rimet, símbolo máximo da conquista mundial no esporte.
Este episódio, até hoje envolto em mistério e curiosidade, mobilizou autoridades, chocou torcedores e trouxe à tona questões importantes sobre segurança em grandes eventos esportivos. Vamos explorar, em detalhes, essa fascinante história que entrou para os anais do futebol mundial.
O que Representava a Taça Jules Rimet?
A Taça Jules Rimet era mais do que um simples troféu. Criada em 1930, idealizada pelo então presidente da FIFA, Jules Rimet, e desenhada pelo artista francês Abel Lafleur, a taça simbolizava a supremacia no futebol internacional. Com cerca de 35 centímetros de altura, 3,8 quilos e feita de ouro maciço, o troféu retratava a deusa da vitória Nike, erguendo os braços em sinal de glória. Seu valor, tanto simbólico quanto monetário, era inestimável.
O Cenário do Crime: Londres, 1966
Com a Copa do Mundo de 1966 se aproximando, a taça foi colocada em exibição pública no Central Hall de Westminster, em Londres, como parte de uma feira filatélica. A exposição atraiu milhares de visitantes, tornando o local um ponto de grande movimentação. Apesar de contar com seguranças e uma vitrine de proteção, o ambiente não estava à altura de proteger um dos objetos mais valiosos do planeta futebol.
O Roubo: Um Gol de Placa dos Criminosos
No dia 20 de março de 1966, um domingo aparentemente comum, os organizadores da exposição notaram algo estranho: a vitrine que exibia a taça estava vazia. A Taça Jules Rimet havia sido roubada. O choque foi imediato. A notícia se espalhou como fogo em palha seca. O mundo do futebol entrou em alerta.
A audácia do roubo espantou a todos. Os criminosos conseguiram invadir o local durante o dia, contornaram a vigilância e furtaram o troféu sem deixar pistas evidentes. O caso ganhou manchetes em jornais do mundo inteiro, e a pressão sobre a polícia britânica se intensificou.
A Investigação Policial: Corrida Contra o Tempo
A Scotland Yard assumiu o caso e mobilizou uma força-tarefa especial. A investigação revelou que o roubo havia sido cuidadosamente planejado. As autoridades passaram a trabalhar com diversas hipóteses, incluindo ações de quadrilhas especializadas em tráfico de arte, sabotadores internacionais e até possíveis fraudes internas.
Poucos dias depois, um fato novo: uma carta anônima foi enviada ao presidente da Football Association, Stanley Rous, exigindo resgate em dinheiro pela devolução da taça. A carta estava assinada por “Jackson” e indicava um ponto de encontro para a entrega do dinheiro. No entanto, a tentativa de negociação revelou-se uma armadilha para capturar suspeitos. Um homem chamado Edward Betchley foi preso, mas ele alegou ser apenas um intermediário e nunca revelou os nomes dos verdadeiros criminosos.
A Reviravolta: A Ajuda Inesperada de um Cão Chamado Pickles
Quando tudo parecia perdido, a solução veio do lugar mais improvável: um cachorro. No dia 27 de março, exatamente uma semana após o roubo, um cidadão chamado David Corbett estava passeando com seu cão, Pickles, nos arredores de sua casa em Beulah Hill, no sul de Londres. O cachorro começou a farejar um pacote estranho próximo a uma cerca. Ao verificar, Corbett encontrou a taça enrolada em papel de jornal.
A Taça Jules Rimet estava de volta.
Pickles, o Herói Canino
Pickles tornou-se um herói nacional. Recebeu medalhas, participou de programas de televisão e chegou a atuar em um filme. Seu dono, David Corbett, também foi recompensado com uma quantia em dinheiro pela Football Association. O caso virou símbolo de sorte e esperança, aliviando a tensão que dominava o país às vésperas do torneio.
Os Criminosos: O Que se Sabe Até Hoje?
Apesar da prisão de Betchley, os verdadeiros responsáveis pelo roubo nunca foram totalmente identificados ou condenados. Muitos acreditam que o crime tenha sido realizado por uma quadrilha local que não esperava tamanha repercussão e acabou abandonando o troféu por medo de serem pegos. Outros sustentam que o caso envolveu agentes internacionais com interesse em desestabilizar a organização do evento.
O mistério em torno dos autores do crime permanece até os dias atuais, alimentando teorias da conspiração e documentários investigativos.
O Futuro da Taça Após o Roubo
Depois do ocorrido, a FIFA redobrou os cuidados com a segurança da taça. Ela foi utilizada normalmente na final da Copa do Mundo de 1966, vencida pela Inglaterra, e permaneceu como troféu oficial até 1970. Nesse ano, após o tricampeonato conquistado pelo Brasil, a Jules Rimet foi entregue em definitivo à Confederação Brasileira de Futebol.
Contudo, o destino da taça original foi ainda mais trágico. Em 1983, ela foi novamente roubada, dessa vez na sede da CBF, no Rio de Janeiro, e nunca mais foi recuperada. Acredita-se que tenha sido derretida e vendida como ouro.
O Legado do Roubo da Taça Jules Rimet
O roubo de 1966 deixou uma marca indelével na história do esporte. O episódio expôs fragilidades na segurança de eventos globais e acendeu um alerta sobre a importância da proteção de patrimônios esportivos. Além disso, demonstrou como elementos do cotidiano — como um simples passeio com o cachorro — podem mudar os rumos de uma história.
Mais do que isso, o evento trouxe à tona uma discussão sobre o valor simbólico dos troféus. A Jules Rimet, embora tenha desaparecido fisicamente, permanece viva na memória dos torcedores como um ícone de uma era romântica do futebol.
Uma História de Mistério, Drama e Redenção
A saga do roubo da Taça Jules Rimet em 1966 combina todos os elementos de uma narrativa envolvente: mistério, ousadia, investigação policial, reviravolta surpreendente e um herói improvável. Até hoje, o episódio desperta fascínio e serve de inspiração para livros, filmes e reportagens.
Mais do que um caso criminal, trata-se de uma história que reflete o valor imensurável do futebol para a cultura global — um esporte capaz de unir nações, mobilizar multidões e criar lendas que resistem ao tempo.